Por total sacanagem de percurso. Foi assim que me vi morando sozinha. Não existiam planos e muito menos vontade que isso acontecesse. Sempre quis morar debaixo da barra da saia da minha mãe enquanto fosse possível (tô, nem aí, podem me julgar kkkk). O plano - por mais remoto que fosse - era sair de casa apenas para casar.
Pois bem, planejar realmente não é meu ponto forte, e como diria Joseph Climber, a vida é uma caixinha de surpresas. Resultado, depois que minha mãe faleceu continuei morando no mesmo lugar. A mesma casa, com os mesmos móveis, com a mesma decoração. O plano - ah, o plano - era vender o apartamento e eu ir para um canto meu. Os móveis e coisas de casa até continuariam os mesmos, mas a arrumação das coisas, os pequenos detalhes, provavelmente denunciariam quem seria a moradora. Mas, como vocês já sacaram esse negócio de planejamento não tem rolado com muita eficácia na minha vida, né?
Continuo no apartamento intocado. Com os móveis religiosamente no mesmo lugar, os objetos de decoração na posição exata em que sempre estiveram, do jeito que a dona da casa escolheu. E eu meio que me sinto hóspede do meu próprio lar. É estranho, né? Esquisito principalmente porque antes disso tudo acontecer, eu sempre me senti tão à vontade ali, tão em casa. Era como se de repente até eu tivesse me deslocado.
Assim, a casa foi tomando contornos de dormitório. No começo as coisas não pareciam tão estranhas como agora e a situação começou a me irritar um pouco.
Sábado resolvi dar um primeiro passo. Peguei uns gatos (da minha coleção de miniaturas - aceito colaborações), uns livros, umas firulinhas e arrumei do meu jeito na estante da TV. Parece besta se você olhar a situação colocada desse jeito, mas sabe Deus porque significou tanto pra mim e meio que me desentalou um pouco daquela sensação de não estar no meu lugar.
A sensação de ainda não estar em casa, no entanto, persiste. Vamos ver até quando.